terça-feira, 7 de abril de 2020

Visita imaginária nº2 - Amores proibidos - na ficção e não só


Se há tema que desperta a nossa curiosidade é o amor. Se há amor que nos cativa é o  proibido. Histórias de quem se apaixonou, amou e não devia … os valores, os princípios de uma determinada sociedade, numa certa época, dão este qualificativo a muitas histórias de amor. Foram muitos os casais perseguidos, condenados, aprisionados e, foram também alguns os que conseguiram vencer os padrões sociais, morais e éticos.
São essas histórias de amor feitas de obstáculos, de fugas e lutas que nos levam a uma visita imaginária. Vamos ao encontro de histórias de amores proibidos que, na ficção ou na realidade, deixaram a sua marca na memória coletiva. Histórias com desfechos trágicos e histórias com finais felizes.


            1) Na mitologia e na ficção



Ariadne e Baco – Primeiro amor desiludido, segundo  amor à primeira vista

A mitologia está repleta de histórias de amor … há duas personagens que simbolizam aquela dimensão tão romântica e idealizada do amor à primeira vista: Ariadne e Baco. A vida amorosa da bela Ariadne começa de forma triste: abandonada por Teseu, fica desamparada e de coração dilacerado na ilha de Naxos. Quando menos esperava, apareceu o deus Baco na ilha. E foi nesse primeiro encontro, nessa primeira troca de olhares, que Ariadne e Baco (uma mortal e um deus) se apaixonaram à primeira vista. O amor feliz de Ariadne e Baco são a inspiração do aclamado pintor renascentista Ticiano que, neste quadro, imortaliza esta história improvável.



Maria Eduarda e Carlos da Maia – o fogo da paixão, o horror da revelação  

Se há uma história de amor que na ficção ficou para sempre, é a de Carlos da Maia e de Maria Eduarda, no romance de Eça de Queirós, Os MaiasAqui deixamos alguns excertos do romance para reconstituir esta história de um amor proibido no século XIX:

- Primeira vez que Carlos da Maia vê Maria Eduarda (no peristilo do Hotel Central, no Cais do Sodré): “Entravam então no peristilo do Hotel Central (…) uma senhora alta, loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem-feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar.”

- O primeiro beijo, em casa de Maria Eduarda, na rua de S. Francisco (atual rua Ivens): “ Ela ergueu-se bruscamente , ele também – e assim ficaram, mudos, cheios de ansiedade, traspassando-se com os olhos, como se se tivesse feito uma grande alteração no Universo, e eles esperassem, suspensos, o desfecho supremo dos seus destinos …  (…) E Carlos beijava-lhe as mãos, ora uma, ora outra, e as palmas, e os dedos, devagar murmurando apenas:

- Meu amor! Meu amor! Meu amor!”


 2) Na vida real – amor proibido, amor não vencido



Se há um escritor que escreveu sobre o amor mostrando as várias faces deste sentimento tão complexo, misterioso e poderoso, foi Camilo Castelo Branco. Tão bem escreveu porque tantas histórias de amor vivenciou … irrequieto, inconstante, colecionou histórias feitas de paixão, de arrebatamento, de aventuras … provocador, ignorou padrões sociais e morais. Mas, houve uma história que o prendeu e que o ligou até ao seu fim a uma mulher. Ana Plácido é o grande amor de Camilo. A história de Camilo e Ana não termina como a de Simão e Teresa, os heróis trágicos do seu romance Amor de Perdição.

Em 1849, Camilo conhece Ana num baile de Carnaval quando esta tinha 17 anos e já estava para casar. A verdade é que, apesar de arrebatamento amoroso, Ana casou com um homem que tinha feito fortuna no Brasil, Manuel Pinheiro Alves. Camilo seguiu com a sua vida de boémia, escrita compulsiva e, veio a fama. O reencontro dá-se em 1858 e iniciam então uma relação considerada escandalosa para a época. Fogem para Lisboa, são perseguidos pela justiça, vão para prisão … mas não desistem! 

A tempestade ultrapassada, vão viver para S. Miguel de Ceide, onde Camilo acabará a sua existência. É Ana que o acompanhará sempre e apesar da sua inconstância, do seu temperamento, é Ana que ele nunca mais deixará.

Agora vamos a uma história de amor proibido que chocou o seu tempo. Uma história feita de muitas peripécias, de dor mas de muita luta e de vitória. Um caso que fez correr tinta nos jornais.























                                                                    Maria Adelaide

  Lisboa, Palácio de S. Vicente, na Graça, 13 de novembro de 1917

Maria Adelaide, rica herdeira do fundador do Diário de Notícias, Eduardo Coelho, abandona o marido para se juntar ao seu grande amor, o motorista Manuel Claro. Ela com 48 anos, ele com 26. Um romance que abalou a família e a sociedade da época. Fugiram para Santa Comba Dão, onde foram descobertos pelo marido e filho desta. Resultado?


                                                                      Manuel Claro

O motorista foi preso durante quatro anos. Ana visitava-o na prisão, disfarçada de lavadeira. Contudo, desconfiado, o marido conseguiu que médicos de renome como Egas Moniz e Júlio de Matos redigissem relatórios médicos em que foi atestada a insanidade de Maria Adelaide, e assim, foi-lhe retirado o direito à herança da família e foi internada no Hospital Conde Ferreira, no Porto. Chegou a fugir do hospital com a ajuda do amante mas foi apanhada e voltou a ser internada.
Só a partir de 1944, Maria Adelaide e Manuel puderam reencontrar-se e viveram juntos, no Porto, até morrer. Ela mudou o seu nome para Maria Romana Claro. Um amor perseguido, os obstáculos vencidos, um amor para a vida!


1 comentário:

  1. A história de amor proibido entre Carlos da Maia e Maria Eduarda é a minha preferida. As descrições feitas por Eça são cinematográficas,pois estão cheias de detalhe. Fiquei com vontade de reler. Obrigada pela partilha.

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