Se há tema que desperta a nossa curiosidade é o amor. Se há
amor que nos cativa é o proibido.
Histórias de quem se apaixonou, amou e não devia … os valores, os princípios de
uma determinada sociedade, numa certa época, dão este qualificativo a muitas
histórias de amor. Foram muitos os casais perseguidos, condenados, aprisionados
e, foram também alguns os que conseguiram vencer os padrões sociais, morais e
éticos.
São essas histórias de amor feitas de obstáculos, de fugas e
lutas que nos levam a uma visita imaginária. Vamos ao encontro de histórias de
amores proibidos que, na ficção ou na realidade, deixaram a sua marca na
memória coletiva. Histórias com desfechos trágicos e histórias com finais
felizes.
1) Na mitologia e na ficção
Ariadne e Baco –
Primeiro amor desiludido, segundo amor à
primeira vista
A mitologia está repleta de histórias de amor … há duas
personagens que simbolizam aquela dimensão tão romântica e idealizada do amor à
primeira vista: Ariadne e Baco. A vida amorosa da bela Ariadne começa de forma
triste: abandonada por Teseu, fica desamparada e de coração dilacerado na ilha
de Naxos. Quando menos esperava, apareceu o deus Baco na ilha. E foi nesse
primeiro encontro, nessa primeira troca de olhares, que Ariadne e Baco (uma
mortal e um deus) se apaixonaram à primeira vista. O amor feliz de Ariadne e
Baco são a inspiração do aclamado pintor renascentista Ticiano que, neste
quadro, imortaliza esta história improvável.
Maria Eduarda e
Carlos da Maia – o fogo da paixão, o horror da revelação
Se há uma história de amor que na ficção ficou para sempre,
é a de Carlos da Maia e de Maria Eduarda, no romance de Eça de Queirós, Os
Maias. Aqui deixamos alguns excertos do romance para reconstituir esta
história de um amor proibido no século XIX:
- Primeira vez que
Carlos da Maia vê Maria Eduarda (no peristilo do Hotel Central, no Cais
do Sodré): “Entravam então no peristilo do Hotel Central (…) uma senhora alta,
loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor
da sua carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles,
com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem-feita, deixando atrás de
si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar.”
- O primeiro beijo,
em casa de Maria Eduarda, na rua de S. Francisco (atual rua Ivens): “ Ela
ergueu-se bruscamente , ele também – e assim ficaram, mudos, cheios de
ansiedade, traspassando-se com os olhos, como se se tivesse feito uma grande
alteração no Universo, e eles esperassem, suspensos, o desfecho supremo dos
seus destinos … (…) E Carlos beijava-lhe
as mãos, ora uma, ora outra, e as palmas, e os dedos, devagar murmurando
apenas:
- Meu amor! Meu amor! Meu amor!”
2) Na vida real – amor proibido, amor não vencido
Se há um escritor que escreveu sobre o amor mostrando as
várias faces deste sentimento tão complexo, misterioso e poderoso, foi Camilo
Castelo Branco. Tão bem escreveu porque tantas histórias de amor vivenciou …
irrequieto, inconstante, colecionou histórias feitas de paixão, de
arrebatamento, de aventuras … provocador, ignorou padrões sociais e morais.
Mas, houve uma história que o prendeu e que o ligou até ao seu fim a uma
mulher. Ana Plácido é o grande amor de Camilo. A história de Camilo e Ana não
termina como a de Simão e Teresa, os heróis trágicos do seu romance Amor de
Perdição.
Em 1849, Camilo conhece Ana num baile de Carnaval quando
esta tinha 17 anos e já estava para casar. A verdade é que, apesar de
arrebatamento amoroso, Ana casou com um homem que tinha feito fortuna no
Brasil, Manuel Pinheiro Alves. Camilo seguiu com a sua vida de boémia, escrita compulsiva e, veio a fama. O reencontro dá-se em 1858 e iniciam então uma relação considerada
escandalosa para a época. Fogem para Lisboa, são perseguidos pela justiça, vão
para prisão … mas não desistem!
A tempestade ultrapassada, vão viver para S.
Miguel de Ceide, onde Camilo acabará a sua existência. É Ana que o acompanhará
sempre e apesar da sua inconstância, do seu temperamento, é Ana que ele nunca
mais deixará.
Agora vamos a uma história de amor proibido que chocou o seu tempo. Uma história feita de muitas peripécias, de dor mas de muita luta e de vitória. Um caso que fez correr tinta nos jornais.
Maria Adelaide
Lisboa, Palácio de S. Vicente, na Graça, 13 de novembro de 1917
Maria Adelaide, rica herdeira do fundador do Diário de
Notícias, Eduardo Coelho, abandona o marido para se juntar ao seu grande amor,
o motorista Manuel Claro. Ela com 48 anos, ele com 26. Um romance que abalou a
família e a sociedade da época. Fugiram para Santa Comba Dão, onde foram
descobertos pelo marido e filho desta. Resultado?
O motorista foi preso durante quatro anos. Ana visitava-o na
prisão, disfarçada de lavadeira. Contudo, desconfiado, o marido conseguiu que
médicos de renome como Egas Moniz e Júlio de Matos redigissem relatórios
médicos em que foi atestada a insanidade de Maria Adelaide, e assim, foi-lhe
retirado o direito à herança da família e foi internada no Hospital Conde
Ferreira, no Porto. Chegou a fugir do hospital com a ajuda do amante mas foi apanhada
e voltou a ser internada.
Só a partir de 1944, Maria Adelaide e Manuel puderam
reencontrar-se e viveram juntos, no Porto, até morrer. Ela mudou o seu nome
para Maria Romana Claro. Um amor perseguido, os obstáculos vencidos, um amor
para a vida!
A história de amor proibido entre Carlos da Maia e Maria Eduarda é a minha preferida. As descrições feitas por Eça são cinematográficas,pois estão cheias de detalhe. Fiquei com vontade de reler. Obrigada pela partilha.
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